Toda a cena de abertura é composta por um único plano de sequência, cheio de ritmo, cor e interatividade da personagem principal, Baby, com o ambiente que o rodeia.
Durante essa cena acompanhamos Baby até ao café com, novamente, fortes presenças da banda sonora - não seria este filme uma ode à música. As mesmas tornam-se mais reais através dos grafitis nas paredes, postes e chão por detrás da nossa personagem, algo que pode passar despercebido mas que aumenta drasticamente o ritmo e interesse da cena.
Se observarmos bem podemos encontrar várias letras da música, cronometradas com a mesma, à medida que Baby percorre a rua, também podemos verificar interação da personagem com o ambiente, como quando finge tocar um instrumento, em frente à loja de instrumentos, por exemplo.
Mas, como se isto não bastasse, podemos ainda perceber outros pormenores relevantes para a narrativa que estão encobertos em pequenos detalhes - ou não estaríamos nós a falar de um filme de Edgar Wright.
Outro pormenor intrigante foi ainda a pausa que o mesmo faz, enquanto faz o seu pedido no café, para dizer "yeah, yeah, yeah" ao ritmo dos vocais da música.
Continuamos, assim, no interior do café.
Dentro do estabelecimento, Baby pede quatro cafés e, momentos à frente, verificamos que serve-os a todos os companheiros de crime, não ficando com nenhum. Aí voltamos a confirmar que ele não pertence a esse mundo, que está um pouco de parte, como verificámos num aspeto do primeiro ponto (o vestuário - ponto abordado no tópico de color coding).
Para além desse pormenor, temos outro de grande valor para o desenvolvimento do filme. Enquanto espera pelo seu pedido, Baby apercebe-se de uma personagem feminina que caminha em frente ao café. À primeira vista parece apenas uma cena comum, que apenas mostrou-se interessado numa rapariga, para dar tempo ao enredo mas, tem muito mais importância do que isso. A rapariga está a usar roupas coloridas e chamativas, tons amarelos que representam a alegria da personagem e onde ele verá uma esperança e força para lutar por uma vida melhor mas, não avançando muito na história, a personagem feminina é a primeira personagem "relevante" que aparece com roupa colorida e de tons alegres, indicando o seu futuro papel. Para além disso, podemos ainda observar o grafite de um coração preto no fundo da cena que, quando Baby olha para a rapariga, o coração torna-se vermelho, comprovando-nos, assim, a importância da personagem. Ambos os pormenores estão muito discretos mas, uma vez vistos, ajudam-nos numa melhor compreensão da narrativa fílmica.
Para além do fator fascinante de todo esse shot, também tem uma backstory. Podemos, novamente, verificar o desinteresse que Baby tem pela vida criminosa que leva simplesmente por observar toda a animação e alegria da personagem até chegar ao café e, no caminho de volta, para se ir encontrar com a equipa, sentimos um ambiente mais pesado, sem tanta felicidade e a personagem é ainda quase atropelada por uma bicicleta, um carro e ainda tem um protestante a gritar-lhe, bem como se cruza com um polícia logo à saída do café, o que aumentou toda essa tensão na personagem, contribuindo tudo para um ambiente menos animado, como o primeiro.
No vídeo abaixo assinalo todas as letras da música durante esse plano de sequência.
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